domingo, 24 de junho de 2012

Tzzzzz!



Hoje, a Maria aprendeu que quando alguém encosta no nariz dela com vontade, ele faz barulho de choque e isso é engraçado. Com ela as coisas são simples: não tem método, hora certa ou pré-requisito. Se é bom e faz rir, é só fazer de novo e pronto, ela aprende. Copia tudo que é legal: choque no nariz, high five, atender telefone, bater palmas.

O problema é que a gente cresce e continua aprendendo fácil, copiando. Aprende a hora de chegar, como se vestir, o que não dizer, a hora de estudar, a hora de dormir, a hora de ficar sério e até de rir.

E aí, invariavelmente, acaba aprendendo que narizes não dão choque. Narizes são só cartilagens que fazem parte do sistema respiratório. Daqui a uns anos a Maria não vai nem se lembrar o quanto isso – sim, choques de mentirinha no nariz - era capaz de diverti-la. Aquela risada inocente vai ser abafada pouco a pouco por afazeres, obrigações, rotinas, preconceitos, expectativas. E então um nariz vai ser só um nariz.

Enquanto isso não acontece, eu fico besta, rindo por tabela dessa menina que ainda não meteu o nariz nas coisas chatas desse mundo.

Eu sou uma farsa


Desculpe se eu te enganei. Você descobriria cedo ou tarde. E achei melhor, por egoísmo, esclarecer já no título do primeiro post. Esse negócio de escrever não é pra mim. Demanda tempo, desprendimento, disciplina, assunto e outras coisas que me faltam.

Escrever é amputar um pouco de si e expor ao mundo. Ironicamente, a anestesia só vem depois que a parte já está publicada. Usando a metáfora recorrente por aqui, postar não é atirar pedras nos outros, mas em si próprio.

Por isso, me pergunto qual o post que anunciará o fim? Em que o leitor finalmente descobre que escrevo aqui só porque tenho amigos gentis e em que uma frase manjada, uma metáfora tosca, um assunto batido ou umas vírgulas fora do lugar tirarão esse blog de bookmarks. Este?

Mas aí eu leio o Chico falando na revista que, quando vai gravar um disco depois de muito tempo, tem a sensação de que não sabe mais fazer música. Vejo um premiado publicitário dizendo que cada job novo parece ser o que revelará, finalmente, que ele é uma farsa e que suas conquistas foram frutos do acaso, não do talento. Leio os excelentes posts abaixo deste no blog. E essas coisas me encorajam.

Eu não vou metaforizar o mundo que o Caetano canta. Não tenho a pretensão de transformar o cotidiano em extraordinário como o Veríssimo. Meus títulos nunca serão donos da acidez e das verdades do Mohallem. Meus dedos jamais terão a intimidade do Mia Couto com as palavras.
Mas este blog e esses caras são bons motivos pra eu continuar tentando. 

Publicado também no cadernocoletivo.com