domingo, 24 de junho de 2012

Eu sou uma farsa


Desculpe se eu te enganei. Você descobriria cedo ou tarde. E achei melhor, por egoísmo, esclarecer já no título do primeiro post. Esse negócio de escrever não é pra mim. Demanda tempo, desprendimento, disciplina, assunto e outras coisas que me faltam.

Escrever é amputar um pouco de si e expor ao mundo. Ironicamente, a anestesia só vem depois que a parte já está publicada. Usando a metáfora recorrente por aqui, postar não é atirar pedras nos outros, mas em si próprio.

Por isso, me pergunto qual o post que anunciará o fim? Em que o leitor finalmente descobre que escrevo aqui só porque tenho amigos gentis e em que uma frase manjada, uma metáfora tosca, um assunto batido ou umas vírgulas fora do lugar tirarão esse blog de bookmarks. Este?

Mas aí eu leio o Chico falando na revista que, quando vai gravar um disco depois de muito tempo, tem a sensação de que não sabe mais fazer música. Vejo um premiado publicitário dizendo que cada job novo parece ser o que revelará, finalmente, que ele é uma farsa e que suas conquistas foram frutos do acaso, não do talento. Leio os excelentes posts abaixo deste no blog. E essas coisas me encorajam.

Eu não vou metaforizar o mundo que o Caetano canta. Não tenho a pretensão de transformar o cotidiano em extraordinário como o Veríssimo. Meus títulos nunca serão donos da acidez e das verdades do Mohallem. Meus dedos jamais terão a intimidade do Mia Couto com as palavras.
Mas este blog e esses caras são bons motivos pra eu continuar tentando. 

Publicado também no cadernocoletivo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário